A presença do DJ Marshmello na edição deste ano da Web Summit está envolvida em polémica. Depois de supostamente ter participado numa palestra de apresentação da Adicoin – uma criptomoeda alegadamente criada em parceria com a Adidas – o DJ e produtor norte-americano denunciou, nas suas redes sociais, que quem esteve em Lisboa foi um impostor. A palestra foi, na verdade, realizada pelo grupo ativista Yes Men.
A palestra realizou-se esta quarta-feira, pelas 10:25, no palco "Panda Conf". Uma pessoa usando uma máscara igual à do DJ Marshmello subiu ao palco após a apresentação de Aristide Feldholt, que se identificou como CFO da Adicoin. E até apresentou uma música nova, chamada “All Day I Dream”.
No dia seguinte, Marshmello denunciou a fraude nas redes sociais: “Quem quer que seja que a Web Summit tenha contratado para atuar ou dar entrevistas não sou eu. Peço desculpa a quem se deixou enganar por aquele impostor. A minha equipa legal já contactou a Web Summit”, escreveu no X/Twitter.
Mas o verdadeiro Marshmello terá estado a atuar numa discoteca em Las Vegas, menos de 24 horas após a palestra. O evento onde participou estava relacionado com o Grande Prémio de Fórmula I, que decorre, este fim de semana, no estado do Nevada.
A verdadeira identidade dos dois oradores foi revelada na página oficial do grupo ativista Yes Men. A pessoa por trás da máscara de DJ Marshmello era Mike Bonanno, enquanto o CFO da Adicoin era Andy Bichlbaum, ambos membros do grupo.
A informação sobre a conferência foi, entretanto, apagada do programa da Web Summit e Marshmello já não consta na lista de oradores. A SIC Notícias tentou contactar a Web Summit, mas até à publicação deste artigo não recebeu resposta.
Adicon: uma criptomoeda ou farsa para denunciar as más condições de trabalho?
A Adicoin apresenta-se como uma criptomoeda usada para pagar aos trabalhadores da Adidas, mas que só pode ser utilizada no metaverso da marca. Afirma ser uma forma de “empoderar os trabalhadores de todo o mundo para ganhar dinheiro virtual com uso exclusivo no Adiverse, o shopping virtual da Adidas no Metaverso”.
“Durante décadas, a Adidas sofreu críticas por não pagar aos trabalhadores. Na II Guerra Mundial, usámos servos. Hoje, manter-se competitivo significa que alguns trabalhadores ainda não são remunerados. Mas agora é hora de uma solução. Quando pagar aos trabalhadores deixa de ser lucrativo, a Adicoin garante que podemos pagar numa moeda muito melhor: os sonhos. Com a Adicoin, os trabalhadores são livres para trocar o mito do dinheiro real no mundo real pela realidade do dinheiro virtual num mundo virtual”, pode ler-se.
Durante a palestra, na Web Summit, o suposto CFO sublinhou que a Adicoin "vai resolver um grande problema, não só para a Adidas mas para todas as empresas grandes". Aristide Feldholt começou por contar a história da companhia, salientando a utilização de "outsourcing" para a produção dos produtos, as ligações à Alemanha Nazi e as más condições dos trabalhadores em vários países.
"Quero que venham comigo numa pequena viagem, desta vez através do espaço, onde trabalhadores mesmo muito pobres podem ter o que quiserem. Onde trabalhadores que nem têm uma refeição por dia, podem branquear-se todos os dias e noites. Onde trabalhadores com crianças podem educar e cuidar de todos os seus rebentos. E onde mesmo sem dinheiro adequado, os trabalhadores podem ainda viver vidas cheias e recompensadoras", disse na conferência.
A própria música apresentada durante a palestra faz referência ao pagamento dos funcionários “em fantasia". A primeira frase que se ouve diz “All day, working our lifes away, they say we’ll pay in fantasy” – que em português, significa “todo o dia, desperdiçar a nossa vida em trabalho, eles dizem que nos pagam em fantasia”.